segunda-feira, novembro 05, 2007

36 - Eu, às vezes, ainda acredito

Às vezes ainda acredito em mim; ainda acredito que posso mudar, que posso vencer. Acredito na minha voz, nas minhas palavras que me soam tão sinceras. Mas a verdade é que eu não posso mudar, não posso deixar de ser o que sou, com tudo o que isso implica: com tudo o que tem de mau e de bom. Perco-me em histórias que só se contam uma vez, que nunca mais se repetem. Entristeço-me de cada vez que me pinto de uma cor que não a minha, que faço transparecer sonhos que não são os meus. Falsas ideologias, falsos rostos, falsas almas. Falsa vida. Pertencer a um mundo que não o nosso, só por que com isso se obtém menos críticas, menos protestos, menos olhares que nos condenam, mais ‘amigos’, mais poder, mais angústia … acaba-se por cair num conformismo irritante, que me destrói, que nos destrói. Como se, no fundo, a base da vida fosse simplesmente viver para agradar a quem nos rodeia, mesmo que isso tenha que significar esquecermo-nos de quem somos e vestirmos a pele de um outro ser que, provavelmente, até nem gostamos, mas, como se tivesse mesmo que ser, acabamos rendidos a uma mente, a uma personalidade que não a nossa, mas a única que é conhecida pelos outros, que é socialmente aceite.

O medo existe. Existe o medo de falhar, de se mostrar que falha, que se erra, que se é Humano… existe um medo incontrolável de se dizer “Não”, de achar que o outro é-nos sempre superior e, por isso, querer ser como ele, pensar como ele, errar como ele: viver a vida dele. Sendo que o cúmulo é que esse ele certamente que está a viver a vida de um outro que, por sua vez, também vive a vida de um alguém Um ciclo que não tende acabar se não houver quem diga Não de cada vez que não concordar com algo; que diga Basta de cada vez que se deparar com uma injustiça; que Não tape os olhos de cada vez que o Mundo se estiver a desmoronar à sua frente…

Às vezes ainda acredito em mim. Às vezes ainda acredito que esta História que é a Vida pode acabar com o final feliz.

Eu, às vezes, ainda acredito.