quarta-feira, fevereiro 27, 2013

falso voo

amor de asas partidas,
quebradas, vazias,
resto de um nada que já não existe
algures num jazido perdidas

é o retrato de um voo,
tão simples e suburbano,
tão longo, é certo,
mas não mais que um engano
 
em jeito discreto, ainda voa baixinho,
atrevido no seu silêncio
prende-se a um voo antigo

oh, fosses tu uma cobra
destemida e audaz
mudarias sentimentos
de um ciclo que és capaz


sábado, outubro 22, 2011

56 - alma de madalena

Enquanto lá fora se faziam sentir as primeiras rajadas de vento da noite, Madalena, no interior do seu quarto deixava-se embevecer com fotografias antigas. Mergulhada em tempos antigos, sorria com a felicidade que outrora tivera. Inevitavelmente, imagina-se de novo criança e sente todo o amor que a envolvia. Dentro de si é invadida por um misto de tristeza por ter crescido e a revolta desse amor se ter perdido. Os afectos, os mimos, os sorrisos, os abraços... ficaram lá longe, esquecidos. Hoje, Madalena, é simplesmente a sombra daquilo que fora. O olhar doce e o sorriso de menina mantêm-se. A sua ingenuidade fá-la crer que ainda é possível construir e ter o que deseja: ser verdadeiramente amada. Sentir-se insubstituível e importante na vida de alguém é algo que já não sente há muito. O que mudou? Ela não sabe… ou teme saber. Talvez ter a consciência de que viveu uma ilusão seja mais doloroso do que saber que tudo o que teve de bom se tenha perdido. Essa inconstância dentro de si, essa insegurança e essa sensação de falta de amor é algo que a corrói de uma forma monstruosa, que só ela é capaz de sentir. Alegre e destemida, passa segurança e confiança para todos aqueles que não a têm..., mas no seu mundo interior a infinidade de questões impede-a de encontrar a paz que tanto procura. Ela conhece-se tão bem e é esse conhecimento que a sufoca. Quer diferenciar-se dos outros, não quer ser mais uma, não quer viver por viver. Quer marcar a diferença; quer ser gente! Não quer ser o que muitos são, uma máquina. Prefere chorar, perder-se em gargalhadas, sorrir, amar, gritar, mesmo que em silêncio, do que deixar de sentir. Talvez um dia aprenda o significado de família, talvez um dia possa saber o que isso é. Mas, enquanto isso não acontece, a alma de Madalena, com as suas nódoas negras, tenta abraçar novos caracteres, novos seres, novas gente. Talvez, assim, encontre quem lhe dê valor e, principalmente, talvez assim, encontre quem a queira proteger com o seu amor eterno. Talvez...

domingo, maio 22, 2011

55 - um dia

A música que oiço nos últimos dias é sempre a mesma, o som é ruim, de má qualidade e perpetua-se em mim. Persegue-me ou faz com que eu me arraste atrás dela. Não a quero ouvir. Não me quero ouvir. Quase louca, já nem escondo este sentimento, esta dor que, com ou sem motivo, é forte demais. Tento ser benévola para comigo mesma, tento dar-me tempo… mas temo que a dor instale-se em mim e me absorva, me consuma e que assim seja… para sempre! Sei o que quero, sei muito bem. Ser feliz, chega? .. muito bem. seja. absotempo. com ou sem motivo, e atira. só não sei o que fazer para matar esta dor que sinto, antes que seja ela a matar-me. Ah, como rapidamente descubro que me odeio!! E os olhos ardem… até as minhas lágrimas deixam marcas… se a minha vida estivesse escrita num livro, já não haveria página que tivesse sobrevivido a tamanha avalanche de choro… um dia… um dia desapareço e sei que ninguém dará por isso; um dia, desisto de mim; um dia, deixo-me cair, de vez; um dia... Hoje não foi o dia.

sexta-feira, maio 06, 2011

54 - feliz, por saber escolher!

Quando o sentimento é grandioso, brincar com as palavras torna-se num desafio. Penso, reflicto e percebo que o melhor mesmo é dar espaço para que os dedos deslizem sobre o teclado e escrevam aquilo que o coração sente. Desta vez, sem apagar, vou escrever por impulso. Sorrio e deixo que seja este bater do meu coração o autor deste pseudo-texto, deste sentimento, desta forma de luz. Deixo que este silêncio me envolva, este silêncio que só eu entendo, que só eu oiço, que só eu quero que faça parte de mim. Dou-lhe voz. Mas continuo a hesitar, continuo a questionar-me sobre a força das palavras, sobre a sua incapacidade de revelar aquilo que tão bem eu sinto, que me conforta, que me deixa segura, que me faz gostar de ti. Sei que lês o olhar, mas serás capaz de o ler por entre estas linhas? E saberei eu dizer o quanto gosto de ti, assim, juntando letras, sílabas, palavras, frases?! Não sei… por mais que me deixe cair no poço do alfabeto, por mais que faça dele um jogo e tente recriar novas palavras, nenhuma consegue ser sinónimo de ti, da tua forma de ser, do teu jeito e daquilo que eu sinto por ti!

Pouco me importa se não cresci ao teu lado; pouco me importa que desconheças as birras de infância e todas as minhas características peculiares que tão bem me descreviam; pouco me importa que estas histórias, que hoje possas saber por mim, não tenham sido momentos vividos por ti. Pouco me importa. Sei o que sinto, e o que sinto é muito. É tudo. Sabes o que realmente me importa? É que embora não te tenha tido desde sempre, tenho-te agora. E isso é uma sorte. Diferente, mas tão semelhante daquela que me deu à luz. Completam-se e eu preciso das duas. Muito.

Os olhos acabam por se fechar e a gargalhada é inevitável. Os pulsos continuam intactos, sem cortes, sem feridas… o coração bate, sinto que tem mais a dizer, mas não consigo… desisto de procurar a palavra exacta, porque afinal ela esteve sempre tão perto de mim… , mas nunca a quis banalizar… estou feliz!, definitivamente soube escolher!

E, quase sem fôlego, rendo-me e ouso dizer-te:

Amo-te … Mãe!

segunda-feira, janeiro 17, 2011

53 - a vida não é uma linha recta

Parecia difícil. Chorei tanto, se tu soubesses. Doeu e frustrou. Parecia difícil. Aliás, foi difícil! E, por incrível que pareça, já passou. Tudo passa, vês?

Mas não me venham com tretas! Os impossíveis existem, sim! Os impossíveis somos nós. Criamos barreiras, insistimos, teimamos em dizer que não somos capazes. E sabes, há quem acredite mais em nós, do que nós próprios. E assim se aprende. As quedas magoam mas, por mais estranho que pareça, fazem-nos mais felizes. Não é fácil acreditar em palavras bonitas em épocas monstruosas; os sorrisos não têm espaço quando o olhar é sofrido e já nem um abraço o consegue consolar. Mas é assim. Não te peço, meu amor, que nos deixemos de questionar. Faz parte. Apenas peço que, com carinho, penses em mim; penses no meu sorriso ao dizer-te que te amo; penses no meu olhar que, timidamente, te agradece, por tudo.

Parecia difícil. chorei tanto, se tu soubesses. Doeu e frustrou. Parecia difícil. Aliás, foi difícil! E, por incrível que pareça, já passou. Tudo passa, vês?

Eu estou aqui! Viva! Disponível para ti, disponível para mim. Pensa em mim, mas não penses muito... complica tudo.

Sabes, a vida não é uma linha recta!

quarta-feira, dezembro 08, 2010

52 – desiludi-me

A alma grita. Não consigo esperar. Deixo o livro e pego, quase que bruscamente, no lápis que, rapidamente, se apodera de mim. Preciso expulsar estes sentimentos que, aos poucos, vão-me enfraquecendo. Ridicularizam-me. Até eu, tenho vergonha de mim. Falho. Só falho. Ultimamente, falhar poderia ser o sinónimo do meu nome, do meu corpo, da minha voz, do meu jeito de viver. Não sou assim. Descubro-me. E até essa descoberta me magoa, não estava preparada.

Deixo-me ir, assim, desengonçada. Puxo por mim, arrasto-me... mas parece não chegar, estou demasiado pesada para caminhar; demasiado sonolenta, para acordar; demasiado triste para mudar...

Mas, enquanto o lápis escrever, enquanto a mente imaginar, sei que a solidão não é total, sei que a melancolia, fria e trémula, é compreendida. Tenho o abraço destas palavras que, mesmo que tristes, sorriem-me e abraçam-me. Confortam-me e fazem-me acreditar...

quarta-feira, dezembro 01, 2010

51.2 – cancro

[CONTINUAÇÃO]

A cabeça explode; o cabelo cai e Laura sente-se triste. Com força, mas triste. Às vezes quase que se deixa cair e pensamentos destruidores apoderam-se dela.

A última ida ao médico terá sido dolorosa… finalmente confrontou-se com a situação. Agora sim, está disposta admitir: a si e aos outros.

Terrivelmente pálida, concentra-se para poder caminhar. Pé ante pé. Devagarinho. Muito devagarinho. Sem pressas. As vozes que escuta, de mulheres já velhas, ditam a sentença que Laura recusa aceitar como sendo sua. Assim, embora não possa ignorar, fecha os olhos e deixa-se levar pelo seu próprio olhar; aquele olhar repleto de histórias para contar, de risos vividos e por viver, de sonhos realizados e por realizar. Ah, aquele olhar... é esse olhar, que ela não vê, mas sente, que a faz continuar acreditar e, assim, deixar o seu diário, deixar de nele escrever as suas fraquezas e de quanto a sua alma chora; deixar que aquelas páginas em branco quando rasuradas com a sua caligrafia ferida, em sangue corrente, a perturbem só de imaginar que, um dia, alguém as poderá ler… o diário terminará, mesmo antes de Laura poder escrever «venci, finalmente o pesadelo terminou e eu venci». Ela sabe que tudo só depende dela e que as nossas fraquezas fazem parte..., que não temos que estar sempre a rir, que não temos de fazer do nosso sorriso bandeja nem oferecê-lo quando não o sentimos...; ela sabe que há dias assim, há meses assim...; ela sabe que há acontecimentos que não se podem mudar, mas a forma como se reage a eles poderá ser, ou não, fatal. E aqui reside a diferença, é aqui que se separam os que desistem dos que lutam e persistem! Por isso, mesmo sem diário onde possa escrever o tal final feliz, ela vive dia-a-dia e hoje, hoje ela pode dizer «venci, mais um dia e venci». Sorri e continua a caminhada...

[FIM]

sábado, novembro 20, 2010

51.1 - cancro

[CONTINUAÇÃO]

15 de Novembro

Querido Diário…,

Continuo sem chorar. Incrível. Conhecer os meus olhos e sabê-los sensíveis, e agora… agora nada! A minha passividade começa a irritar-me.
Preciso de um banho, quero que a minha Alma acorde! Levanto-me da cama, dispo-me e deixo-me mergulhar naquelas águas tranquilizantes. E naquele meu silêncio, oiço-me. E de repente, sinto-me a sufocar. Sufoco-me nesta forma de vida, onde finjo confundir as primeiras lágrimas que derramo no meio daquela água que teima em não limpar a alma. E continuo assim. Existo. Todo o meu corpo parece indolor aos meus sentimentos. Magoo-me e nada! Provoco a dor e nada. Por mais cruel que seja para comigo, nada me afecta, nada me machuca, nada faz com que o meu corpo grite de uma raiva que devia de existir. Questiono-me se estarei viva e as pessoas riem-se. Acham-me com piada, acham piada até à minha dor. Sou cruel comigo, mas também cruel para aqueles de quem gosto e minto. Não merecem. Assim, embora precisasse tanto do seu abraço, do seu silêncio sem perguntas, despido de julgamentos e cheio de conforto, afasto-me. Estarei eu a ser aquilo que sempre condenei? Hipócrita? Na verdade, recuso-me a magoar quem não merece ouvir a verdade. E depois? Depois finjo. Digo que estou bem, quando a minha alma chora e quase implora que sejas sábio e descubras o porquê de eu me sentir assim. Depois, mesmo que acertes, irei negar. Não sou capaz de to dizer, por ti, mas quero que o saibas, por mim.

Sinto-me horrível. Um ser quase assustador, que quer o teu abraço, mas que faz de tudo para o manter longe.

Assim, se não sou capaz de fingir verdadeiramente, então tornar-me-ei aquilo para que nunca nasci: para ser fria, distante, insensível. Não existe opção, esta é a única e, por muito que custa, vou ser capaz. Sempre fui, sempre. Sempre habituei-me a ouvir os teus problemas, os problemas dos outros e a verem-me sempre sorridente. Mas também sofro, com a diferença de que supero tudo, sozinha. Sou capaz, embora às vezes seja um peso muito grande para uma pessoa só…

Não sei como será o final desta história, mas sei que vou continuar a sorrir, porque devo isso a ti, e a mim mesma! Mereço ser feliz, dure o tempo que durar…

Laura continua envolvida em sentimentos que a corroem por dentro. E ninguém a percebe. Não faz mal, diz ela. Mas faz. É à noite, quando ninguém a vê, que se deixa cair num estado lastimável. É nesse silêncio que quase morre. Sem forças, deixa-se adormecer, para que, rapidamente, seja de manhã. O sol nasça e, no meio da gente, ela volte a sorrir. É mecânico. É um ciclo. Dia de sorrisos, noite de lágrimas. A noite liberta-a, é o único momento onde é verdadeira para consigo. Fases. Ela prefere pensar que são fases. Vai mudar. Ela tem força para isso, ela nasceu para isso, para se erguer mesmo quando o mundo insiste em a fazer cair.
[CONTINUA]

sexta-feira, novembro 12, 2010

51.0 – cancro

Foi no início da semana que ela descobrira algo que, inevitavelmente, mudaria a sua vida. Quarta-feira, 15h42. Uma só palavra foi suficiente para a deixar cair num estado paralisador. Cancro. Depois disto, não ouviu mais nada. Envolveu-se em vultos de luzes com cores diversas e estranhamente, ou não, não verteu uma única lágrima. Contrariou o estado natural e sorriu. Sorriu, sorriu e voltou a sorrir. Ela tinha a certeza que a sua energia não poderia esgotar agora. Era jovem e amava tanto viver que seria cruel tirarem-lhe esse prazer. Por isso, sabia que tudo ia correr bem, embora ainda não soubesse que o caminho a percorrer fosse longo...

Hoje ela escreve mais uma página no seu diário, mais uma vitória, mais um dia em que o rosto se iluminou de sorrisos e as respostas às perguntas "está tudo bem?" foram sempre SIM.

Ela vai vencer. Ela sabe que vai vencer.

[CONTINUA]

quinta-feira, outubro 21, 2010

50 - desistir? não, obrigada.

É tão fácil enganar. Faz-se um sorriso e esforça-se para que ele não esmoreça. Modelam-se palavras, diz-se o que se sabe que é bom de ouvir. E depois? Depois, já sozinha, quando ninguém pode ouvir… chora-se. Chora a alma, choram os olhos. E as palavras, boas ou más, deixam de existir, porque a força exercida durante o dia, para com a sociedade, foi tal que já não há espaço para teatros. Somos só nós: frágeis, incapazes, e passamos de geniais a bestas.

Mas quando menos esperamos nascem pessoas capazes de nos abraçar, que sem nos questionar, apenas estão lá: confortam-nos com o olhar e com o toque nos animam. E volta-se acreditar.

Vamos sendo levados pela maré. Às vezes quase que nos deixamos afogar, mas depois, depois a consciência dita que somos capazes de tudo, só depende de nós. Se falhamos, a culpa é nossa. Só nossa. Mas se vencemos, a culpa é de todos aqueles que fazem parte de nós. E aqui somos felizes. Sorrimos e vivemos.

Descarregamos. Gritamos. Enlouquecemos. Faz bem. Uma dor que corrói, quase que nos mata, mas que, se bem gerida, transforma-se em energia, em vontade, em querer, em viver! E vive-se. Ah, como é bom ter esta sorte, ter esta oportunidade para Ser.

E assim, no meio de sentimentos opostos, que me confundem, que me fazem sentir o que não quero, eu só sei de uma coisa...

… desistir? Não obrigada.

quinta-feira, outubro 07, 2010

49 - arte

Com a suavidade do teu Ser, rasgas conformismos ridículos, palavras falsas e cruéis. És gente. Gente que grita, sonha e acredita; gente que não imita! O olhar, atento, desce colinas traiçoeiras, escapa a precipícios risonhos. Pé ante pé, degrau após degrau, vais subindo e subindo, deixando para trás criaturas iguais aos demais. Sorris. O sabor da vitória sabe bem, mas é ainda mais delicioso o sentir que nada fará abandonar valores e ideais e que com orgulho dizemos não quando de nós esperam um sim; que rimos quando de nós esperam um choro dramático; e é com orgulho que mais do que dizer, mostramos que somos simplesmente o que somos, sem máscaras vulgares, sem palavras e gestos mecânicos. E tu és gente, gente que se irrita, porque és gente que não se limita.

E em suaves melodias, ping pong se ouvia, o sorriso da menina que hoje nascia!


post dedicado à nossa grande artista portuguesa Marina Mota, que faz hoje anos! Parabéns, marina. :))

no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=bcHUup1sXbQ

terça-feira, outubro 05, 2010

48 - dor

Eu sei lá porque espero, eu sei lá porque choro, eu sei lá porque me magoo. Gritaria, se pudesse, mas até a minha voz se envergonha de mim. Emudecida, esconde-se. E eu aqui. Cada lágrima que percorre o meu rosto dita a sentença da minha alma. Está condenada. Pode lutar, pode erguer-se, pode querer, que rapidamente a vão fazer desiste, cair, perder. Tudo assim, de repente.

Deixo que me levem. O corpo é incapaz de se revoltar. Já caiu, agora é tarde demais.

quinta-feira, julho 22, 2010

47 - prefiro

se desejasse a rotina, bem sei que ela matar-me-ia. porquê? porque dentro do meu inconformismo, já me conformei que não é recta a linha da minha vida! posso perder-me nos meus gritos de loucura, mas são nesses mesmos gritos que me encontro. preciso. sinto. vivo. e pé ante pé, vou escutando este silêncio, de aspecto desinteressante, mas de uma alma que me arrepia. oiço-o e por ele deixo-me guiar. dou-lhe voz. sorrio-lhe. abraço-lhe. beijá-lo-ia, se pudesse. se nem a minha alma sossega, como poderia desejar uma vida monótona, onde as oportunidades de aprendizagem tocar-me-iam no ombro, mas cega, seria incapaz de as ver, agarrar? prefiro assim. prefiro assustar-me com o amanhã, chorar, berrar, rir e brilhar; prefiro ser eu e tudo o mais quanto possa ser; prefiro abarcar este mundo e o outro, se houver; prefiro ser gente e com a gente refilar, criticar, amar; prefiro a intensidade de qualquer sentimento à sua pobreza; prefiro preferir, escolher, optar; prefiro cair pela minha preferência, escolha, opção à preferência, escolha, opção de outros alheios ao meu interior. prefiro Ser. eu, sempre eu. simplesmente eu.

uma vez mais.

domingo, junho 27, 2010

46 - olhos meus

olhos meus,

são passagens monumentais
aquelas que me preenchem e que,
àquela pequenez de gente, ditam
as verdadeiras lições sentimentais

é perpétuo o som desta loucura,
da demência desta gente
que teima em estar presente
numa realidade inexistente

são palavras ditas em vão,
sorrisos e olhares mecânicos
que me atiram para o chão
de um mundo já sem paixão

são olhos,
olhos meus
olhos que ditam uma alma que se esconde
                        de vergonha de estar presente
                        num mundo de máquinas que não sente

terça-feira, fevereiro 02, 2010

45 - A voz

A voz suave que me percorre o corpo, que me abraça e me conforta. A voz com que sonho, com que desejo, com que vivo. A voz que eu oiço, que só eu oiço, à espera de um dia ter a força para, num simples murmuro, poder ser ouvida, escutada. A voz que, por tantas vezes, foi obrigada a se calar. Ah, esta voz... é menina, de pés descalços e rouca, rouca de gritar para um povo que não a quer ouvir, que finge não existir. Um povo que não se digna a Viver, apenas se limita a existir. A voz insiste e existe!, mas esta gente teima em fingir que nada acontece, que nada importa, que nada interessa, que nada revolta! Ah, como esta gente é louca, louca por se deixar envolver numa realidade que não existe; louca por se deixar conformar e mergulhar num fundo onde a lágrima e o rosto de sufoco daquela pequena criança, não é capaz de transparecer. Depois choro, como se o meu choro pudesse calar a voz que insiste, que persiste, que luta e não desiste. Quase que morro de angustia ao ver a inércia deste povo. Ah, que povo, que ausência de carácter, que ausência de humanismo. Ah, como isto me sufoca, me entristece, me revolta. Delicadamente, aos poucos, eu darei forma a esta voz e, esperando que não seja tarde de mais, ela vai ser ouvida e envergonhará cada um que se deixou conformar com um mundo politicamente correcto, mas sem escrúpulos.

Um dia, irei ver esta voz que, embora rouca, transpirará o brilho de ter conseguido; de ter transformado ausência em presença, inércia em acção e a lágrima só será permitida quando o sorriso não for suficiente para expressar o mais bonito dos sentimentos.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

44 - para onde foi a nossa alma de criança?

São tantos os momentos que me ligam a ti, carregados duma intensidade que os proíbe de se evaporarem da minha memória, onde tudo acontece. Sem ver, abusa-se no sentir. Sobre o doce olhar que me guia, eu penso em ti. E tu, pensas em mim? Pergunto-me, enquanto o chocolate quente me aquece o corpo, a alma. Parece que ninguém é capaz de te dar a conhecer o Amor, aquele que tantos anseiam encontrar na sua eterna procura. Descansadamente, sorris e fazes troça de mim. Passas tantas vezes por mim e, com aquele olhar indiferente, segues o teu caminho. Depois, lentamente, olhas para trás e vês-me partir. O Senhor Manuel, do café junto à escola primária, fez-me essa confissão e ainda me disse ‘menina, olhe que o seu rapaz qualquer dia ainda se perde’. Corei como se ainda tivesse 7 anos, como se ainda estivesse na escola primária, como quando pegavas na minha mão e dizias ‘quando formos grandes casas comigo?’. Só o Senhor Manuel continua a trabalhar, no mesmo café. Tudo o resto mudou. Mais velhos, mais complicados e distantes um do outro, embora trabalhemos no mesmo escritório, assim vamos vivendo. Todos dizem que gostamos um do outro. Como é que ‘todos’ se apercebem disso? Todos menos nós. Acabamos por cair num ciclo ridículo, onde a paixão dera lugar a um amor que é vivido em segredo, porque o medo corrói-nos. E é com esse medo que vivemos. Sozinhos, sem partilhar doces chupa-chupas, fingimos que nenhum de nós existe. Fingimos que não gostamos um do outro e deixamos a nossa alma de criança por aí, algures perdida, algures enterrada.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

43 - tua alma

recordar-me de ti
é ganhar a força de que preciso
para resistir à tentação
de te abandonar sem aviso

os olhos que deixam de ver
e a alma que deixa de sentir
só tu alcanças o meu espírito
e não me deixas desistir

posso fingir que não te escuto
e demonstrar uma raiva que não sinto
mas sorrio, por dentro,
por te ter aqui comigo

liberta-me de mim, por favor
ajuda-me a sentir,
agarra-me e não me deixes cair
para que possa renascer e assim poder viver

suavemente libertam-se gritos de dor
onde só os olhares mais cúmplices
fazem a menina levantar-se e agradecer
por este seu amigo não a deixar morrer

domingo, dezembro 20, 2009

Parabéns, minha Mãe

Este sim é um post pessoal, sem ficção, onde as personagens são reais e desempenham o papel de mãe e filha. A diferença é que eu, aqui, para além de sentir também vivo, porque esta é a minha história. Espero que compreendam a diferença ;)

Querida mãe,

Há pessoas que, indiscutivelmente, fazem parte de nós. Sorrimos por ver o seu sorriso e desmoronamo-nos quando sentimos a sua tristeza. Pessoas que estão sempre connosco, estejamos nós onde estivermos. Sentir que alguém faz parte de nós, que nos complementa, nos completa, nos enche de Vida é tão bom. Há quem diga que quem nos ama não nos pode fazer sofrer. A verdade, porém, é que são precisamente as pessoas de quem gostamos que mais nos magoam. A razão é mais simples do que se poderia supor. As palavras só ganham significado por quem as diz. A mesma palavra tem, certamente, uma força diferente conforme a pessoa que a diga. Não me afecta minimamente as palavras maldosas de gente que não me é especial, que desconheço ou por quem não nutro afecto. Mas uma palavra mal dita de quem se Ama? Ai como dói. Magoa. Mata por dentro. E porquê? Porque precisamos tanto do amor dessa pessoa que esquecemo-nos que ela também é Humana, que erra e que não vive neste Mundo exclusivamente para nos agradar. Mas nós, tolos, colocamos num pedestal bem alto todos aqueles que nos preenchem por dentro, consideramos essa gente intocável, seres quase superiores, que têm obrigatoriamente que corresponder às nossas expectativas. Depois... depois a queda é grande, quando nos sentimos desiludidos ou, talvez, envolvidos numa ilusão que, agora, nos faz sofrer.

Este borbulhar de emoções, de afectos, de sonhos, desejos; este conflito interno de querer tanto que o outro nos ame tanto ou mais do que nós o amamos; este acreditar que só os outros nos magoam e só nós temos os valores e as acções perfeitas; este sofrer pelas acções dos outros que nos são queridos; este vibrar intenso com a vida dos nossos amores...

Para tanta, tanta, tanta gente tudo o que acabei de dizer é excessivamente intenso, desnecessário e, para alguns mais radicais, será obsessão ou, até mesmo, de forma extremista, doentio. Ao ponto em que chegámos. Considerar alguém diferente só porque sabe Amar. É triste. É tão triste esta mentalidade de que só Eu sou importante, de que só posso pensar em mim e sofrer por mim. Onde está o altruísmo? Morreu há muito, parece. Por isso, quando vêem alguém tola como eu, riem, fazem troça. E eu sorrio. Sorrio porque sei que, neste caminho que continuo a fazer questão de percorrer, já sei Amar como muita gente não sabe. E é bom. Muito bom, apesar das imensas dores de cabeça que se tem, das imensas lágrimas que se deixa derramar... assim vive-se. Mudar? Não. Simplesmente aprender a ganhar defesas para que as quedas, aquando uma desilusão, não sejam tão dolorosas. E aprender a saber perdoar é divino, por ser tão importante. Perdoar uma, duas vezes é Humano; perdoar repetidamente um mesmo erro é Estupidez.

Há pessoas que queremos ter connosco para toda a nossa Vida – aquela Vida que julgamos ser eterna. Uma dessas pessoas és tu, minha querida Mãe. É impossível imaginar cada vitória sem ti, cada pequena derrota sem ti, sem o teu aparo, o teu apoio, a tua coragem, a tua força. Preciso tanto de ti. Preciso tanto daquela mãe que brincava comigo, ria comigo, partilhava segredos comigo. Preciso tanto daquela mãe que me viu crescer, que me soube amar de braços abertos, de coração aberto. Preciso tanto daquela mãe companheira, sorridente, feliz, doce, optimista. Preciso tanto daquela mãe que fez com que Amasse tanto a minha infância por ter sido tão perfeita. Preciso tanto daquela mãe que irá acompanhar toda a minha vida futura, que fará parte dos meus projectos, que vibrará com eles e sorrirá por ver todos os meus sonhos a ganharem corpo, vida, força!

Minha Mãe...

Saber que à mínima discussão contigo o meu dia está condenado ao fracasso e a uma tristeza que me corrói. E tudo isto porquê? Porque te Amo Tanto. Preciso de ti. Preciso do teu Amor – do Nosso Amor.

Quase três meses e meio sem te abraçar, te tocar, te olhar nos olhos. Uma saudade que me faz crescer e amar-te mais, bem como perceber a importância que tens na minha vida. Como gosto de ti, Chiça!

E hoje, minha mãe, é o teu Aniversário. 20 de Dezembro, e tu sem mim. Cinco dias depois, a 25 de Dezembro, e tu sem mim, e eu sem ti. Mas é tão bom termos esta capacidade de querer aprender e não é, de todo, a distância física que nos separa. Temos Amor suficiente para construir o nosso caminho, inabalável, e que, obrigatoriamente, se cruza. Por isso, temos vantagem. Estamos a passar por uma experiência que poucos têm a sorte, ou a coragem, de a viver. Por isso, é com um enorme sorriso no rosto que digo: P A R A B É N S! E quero, verdadeiramente, que penses que tudo aquilo que acontece não é por acaso e que os maiores obstáculos só se atravessam daqueles que têm a força para os ultrapassar. Fecha os olhos. Eu fecho os meus, também. E pensemos nos pequenos pormenores que, embora pequenos, fazem toda a diferença.

Aproveita o dia de hoje. Vive-o! Abarca cada gesto e respira todos os sonhos que ainda tens por realizar. Vais conseguir, sabes disso. Consegues sempre. Sempre! Minha mãe, minha Super-Mulher, minha Heroína.

Gostava de te poder dizer mais, mas não sei que palavras usar, porque todas me parecem tão poucas para demonstrar aquilo que sinto por ti.

Amo-te. Ontem. Hoje. Amanhã. Sempre.

Um beijo,

         Da tua filha que te adora,

                                                          Sara Mota

sábado, novembro 14, 2009

42 – (sem) amor

O teu cheiro não me sai da pele e o fumo dos teus cigarros teimam em permanecer no meu cabelo. Adias a tua partida. Todos os dias voltamos a fazer amor como se fosse a última vez. Todos os dias inundo esse teu olhar de beijos embrulhados em lágrimas ocultas. Desejo-te, mas sei que partirás.
Tremo de cada vez que as tuas mãos tocam nas minhas, de cada vez que nos envolvemos nos braços dum do outro. Tremo de cada vez que a ânsia de te ter me percorre o corpo e me diz, baixinho, "vais ficar sozinha, de novo... uma vez mais".

Esmoreço.
Deixo-me cair, no meio da sala, naquele tapete que a avó me deu, naquele tapete que, por tantas vezes absorveu o meu choro e as gotas de whisky ou do vinho tinto que acabam por escorrer da garrafa… ou até dos meus lábios, quando perdem a vontade de sentir, de viver.

Tu não sabes, mas vais embora.
É sempre assim. O amor, por aqui, nunca dura muito tempo – acaba sempre por partir. Tu não serás a excepção e esta voz que teima em me avisar, em me relembrar, dá-me razão e tira-me o sossego.

Desespero.

Depois dirás que a culpa foi minha, porque fui eu que insisti em ver o que não era possível de visualizar, porque não existia; que ouvia o que não tinha som; que teimava em acreditar numa história que não era real. E, assim, em vez de viver aquele amor, fazia questão de o sentir já morto, mesmo quando tinha acabado de nascer.

Eu direi que és louco, como digo sempre, a todos. Deixarás escorrer uma lágrima e dir-me-ás que fui uma desilusão e pela tua boca sairão palavras como amo-te, és diferente, única, especial, tenho pena, fim.

Responderei com gritos de desespero, com palavras maliciosas e com gestos suicidas. E a voz continua em mim, dizendo "vês?! Eu avisei-te. Disse-te que ele iria embora. Vais ficar sozinha, de novo... uma vez mais". E como por instinto faço com que essa voz se oiça, dizendo bem alto, já com o copo de whisky na mão,
             vês como vais embora?... Porque não acreditaste em mim e não partiste mesmo antes de teres chegado até mim?

Fechas a porta.

Deixo-me cair no meio da sala, naquele tapete que a avó me deu...
A história repete-se.

                É o fim.

sexta-feira, outubro 23, 2009

41 - Estrela

Adormeço enquanto a Estrela, ao longe, continua a sua caminhada.

Na mão leva o cesto que a alimentará por alguns dias, não muitos. Por cima do seu cabelo loiro, a fita castanha que a mãe lhe dera. E no olhar suporta a esperança de abarcar uma nova vida, onde os sonhos se transfigurem e passem a ser a sua mais bela realidade.

Esta menina tem corpo de bailarina, voz de fadista e alma de poeta.

Os pés doridos fazem crer que a sua [primeira] caminhada estará a chegar ao fim. Os sapatinhos, feitos pela avó, vão-se despedaçando, mas não a abandonam. O silêncio daqueles dias absorvem-lhe por completo, mas o sorriso estampado no rosto faz emergir toda a confiança que tem, ou que aprendeu a ter.

Esta Estrela há-de brilhar. Vai voltar a nascer e, desta vez, vai vencer. Não haverá Lobos capazes de a consumirem, nem Ovelhas capazes de a enganar. Desta vez, a menina de olhar doce, não se deixará iludir. Cantará de cada vez que a voz da Desistência teimar em se ouvir. Cantará para preencher o vazio daqueles que ela tanto ama, aqueles que deixara aquando o início desta sua viagem.

Transporta a sede de uma ânsia descomunal, que não se prende com preconceitos. Uma sede sem limites, insaciável.

Esta Estrela há-de brilhar. Pisará todos os palcos existentes e permanecerá naquele que a faz tão feliz, aquele que a completa, preenche e que lhe devolve a paz de que necessita. Esta menina, de sorriso no rosto, de olhar simples, de palavra sincera, que magoa quem assim não o é, será figura de cartaz e fará jus ao seu nome: Estrela.

Será naquele pequeno lago que verá o seu reflexo, a sua imagem que pretende manter, o olhar que não quer perder, pois quer ser estrela, sem deixar de ser a Estrela.

quarta-feira, setembro 23, 2009

40 - a tua voz

Julgar-te-ia longe, se não tivesses tão perto; mergulharia em ti, se a minha sede não tivesse saciado; conjugaria o verbo existir no futuro, se a nossa história ainda não tivesse terminado.

Sinto o frio de cada noite solitária, o frio que me aquece, que me conforta, que me adormece; sinto a lágrima que não escorre, mas que me percorre com um força que não se esgota e que me cansa; um olhar incolor, que não cativa, que não arde com o murmurar que é cúmplice, mas efémero. Penso em ti, às vezes. Sorrio e sei que vou ficar aqui, até a tua voz chamar por mim.

quarta-feira, março 04, 2009

39 - Pulsões

Sois sonho, sois miragem
Água doce, puro mel
E de entre sopros de vento
Perfuras o centro do meu contentamento

Folhas, ervas, jasmim
É o cheiro de uma pele junto a mim
Que ofusca um prazer desmesurado,
Um prazer sem limite, sem fim.

Música detentora de um poder singular,
Onde os dias parecem horas,
E a chuva a bênção de um amor
Fugaz, denso e inspirador,

Onde olhares cruzados são
Raios, trovões, paixões!

terça-feira, agosto 26, 2008

38 - Expulsa

A escolha foi tua, meu amor. Escolheste magoar-me vezes sem conta e, um dia, fartei-me de dizer que te amava, de fazer o melhor que sabia para te agradar. Fartei-me de ser compensada com gritos, berros, palavras ofensivas e injustas… Palavras que tanto feriram os meus ouvidos. Fartei-me de amar quem não se apercebe desse amor ou, ainda pior, se se apercebe, o quer matar.
Será pecado odiar tanto quem, um dia, nos gerou? Odiar profundamente aquela mulher que, um dia, chegámos a dizer “és a melhor mãe do mundo”? Não, não pode ser. Pecado é falsificar sentimentos, esconder emoções e viver dizendo o que não se sente. Pecado é dizer-se “eu mato-te”, pecado é magoar-se desta forma alguém… e se substituirmos alguém por filha, o pecado será, certamente, bem maior.
A escolha foi tua. Não posso continuar a viver no meio desta esquizofrenia, porque estou farta de, sem perceber porquê, mudares de personalidade de dois em dois segundos. Faz-me mal viver assim; faz-me mal expulsar-te da minha vida, mas se continuar a viver assim vou morrer, todos os dias, um pouco mais.
A escolha foi tua. E talvez até tenhas sido tu que, com essa forma de viver, me tenhas expulso da tua vida. Eu não sei. Roubaste-me todas as certezas que fui construindo ao longo da vida…mas uma nova se criou: vou vencer nesta vida e vou vencer sem ti.

A escolha foi tua, mãe.

terça-feira, julho 22, 2008

37 - Réplicas

Poderia fazer réplicas do sorriso e usá-las em momentos de melancolia ou, até mesmo, de dor profunda. Réplicas, simplesmente réplicas que, ao olhos dos comuns mortais, passariam por obras originais. Mas de que me servem falsas cópias? Para quê construir uma imagem que não reflecte a bravura das ondas que destroem o verdadeiro mundo?, o mundo a que nem todos têm acesso: o coração.

De que serve a brisa de uma noite límpida se tu não estás? Onde vou buscar o beijo que me fazia adormecer todas as noites se o meu doce beijador decidiu ser livre? Preciso de ti e tu, meu amor, precisas de mim. Eu sei.

Ah, estes seres que se dizem racionais acreditam que o Tesouro encontra-se soterrado, algures numa ilha esquecida. Que tamanha tolice. Quando é que aprenderão que as pérolas não são visíveis e que se encontram disfarçadas em sentimentos, em lágrimas cristalinas e em sorrisos de princesa?

Dava a minha vida para que tu, meu eterno menino, pudesses viver para poder ser feliz. Fazia-o mesmo tendo em conta todas as noites em que, dadas as tuas tempestades, me fazes lembrar como tudo poderia ser diferente se não existisses, como os problemas poderiam ser diminutos … Dava tudo para que os teus olhos nunca deixassem de brilhar…
Para aqueles que não entendem é obsessão, para os especiais é Amor.

segunda-feira, novembro 05, 2007

36 - Eu, às vezes, ainda acredito

Às vezes ainda acredito em mim; ainda acredito que posso mudar, que posso vencer. Acredito na minha voz, nas minhas palavras que me soam tão sinceras. Mas a verdade é que eu não posso mudar, não posso deixar de ser o que sou, com tudo o que isso implica: com tudo o que tem de mau e de bom. Perco-me em histórias que só se contam uma vez, que nunca mais se repetem. Entristeço-me de cada vez que me pinto de uma cor que não a minha, que faço transparecer sonhos que não são os meus. Falsas ideologias, falsos rostos, falsas almas. Falsa vida. Pertencer a um mundo que não o nosso, só por que com isso se obtém menos críticas, menos protestos, menos olhares que nos condenam, mais ‘amigos’, mais poder, mais angústia … acaba-se por cair num conformismo irritante, que me destrói, que nos destrói. Como se, no fundo, a base da vida fosse simplesmente viver para agradar a quem nos rodeia, mesmo que isso tenha que significar esquecermo-nos de quem somos e vestirmos a pele de um outro ser que, provavelmente, até nem gostamos, mas, como se tivesse mesmo que ser, acabamos rendidos a uma mente, a uma personalidade que não a nossa, mas a única que é conhecida pelos outros, que é socialmente aceite.

O medo existe. Existe o medo de falhar, de se mostrar que falha, que se erra, que se é Humano… existe um medo incontrolável de se dizer “Não”, de achar que o outro é-nos sempre superior e, por isso, querer ser como ele, pensar como ele, errar como ele: viver a vida dele. Sendo que o cúmulo é que esse ele certamente que está a viver a vida de um outro que, por sua vez, também vive a vida de um alguém Um ciclo que não tende acabar se não houver quem diga Não de cada vez que não concordar com algo; que diga Basta de cada vez que se deparar com uma injustiça; que Não tape os olhos de cada vez que o Mundo se estiver a desmoronar à sua frente…

Às vezes ainda acredito em mim. Às vezes ainda acredito que esta História que é a Vida pode acabar com o final feliz.

Eu, às vezes, ainda acredito.