[Vejam o post anterior, o texto é o original... Eu apenas quando o li não resisti e escrevi-o à minha maneira. Dois textos; duas histórias; dois destinos]
Carminho acorda e, ainda deitada, ouve o som da chuva que tanto lhe agrada. Sorri, pois sabe que, naquele instante, haverá outra pessoa qualquer a sorrir, também.
Enrosca-se nos lençóis, de pura seda, e entra num sonho profundo, quase real de tão bonito que era. Volta acordar e à sua vota tem a avó que lhe acaricia a mão, o namorado que lhe beija a testa e a mãe que trás o pequeno almoço: fruta, tanta e tanta fruta; uma bola de gelado de baunilha e uma cereja no topo; fruta e mais fruta; croissants; doce de morango e marmelada e um copo de leite com mel, bem quentinho.
Carminho tem 18 anos e uma vida dentro de si. Olha para a barriga e acaricia-a. Sente-se feliz. Muito e muito feliz.
9 meses recheados de amor, afecto, atenção, gargalhadas, fotografias cheias de sorrisos de gente feliz.
Chegou o dia. Calmamente dirige-se para a maternidade, acompanhada por toda a família e por todos os amigos. As lágrimas caem-lhe com as dores das contracções e com o peso da barriga que, inevitavelmente, se faz sentir.
A malinha com as coisas para a mamã e para o bebé já estava preparada há muito.
Entra na maternidade, grita de dor e de prazer. Finalmente, ouve o choro do seu filho, sorri e, de tanto cansaço, acaba por adormecer.
Cá fora, recebe-se a notícia de que o menino Afonso acaba de nascer. É um menino lindo e saudável.
A felicidade é notória e toda a gente se mostra impaciente para felicitar a mamã, para a mimar ainda mais e para rechear o bebé de coisinhas boas.
Carminho acorda.
Basta abrir os olhos e olhar à sua volta para ver que nunca está só. Recebe flores, ursos grandes e ternurentos, bombons e tudo aquilo a que ela julga ter direito.
Carminho levanta-se ligeiramente, pega no seu filho, abraça-o com cuidado, e à volta tem aqueles que a amam.
É o quadro perfeito.
Sandra acorda e, ainda deitada, ouve o som da chuva que tanto lhe agrada. Sorri, pois sabe que, naquele instante, haverá outra pessoa qualquer a sorrir, também.
Apetecia-lhe ficar mais um bocadinho, enroscadinha naqueles mantas, feitas por si, mas o tempo é pouco e a vida não lhe permite tamanhas regalias. Olha para a barriga e acaricia-a. Levanta-se. Come a última maçã. Veste-se e sai de casa. Está frio, muito frio. O dia, cinzento, é triste e chora compulsivamente. Olha para a carteira e vê que se esqueceu das moedas que lhe permitem apanhar o comboio com destino a Lisboa, Oriente. Olha para o relógio e vê que já tem pouco tempo, apressa-se e volta a casa para ir buscar o seu dinheiro.
Quase sem fôlego vê o comboio passar mesmo à sua frente. Agora, tem de esperar pelo próximo.
O frio quase que corta a sua face branca, tão branca, que parece neve de tão gelada que está.
Sentada, recupera agora o fôlego de uma manhã, como todas as outras manhã, cheia de pressas e correrias.
De repente, lá ouve o som desejado "vai dar entrada na linha dois o comboio com destino a Lisboa, Santa Apolónia". É este!, diz aliviada.
Chega ao Oriente e ainda tem de apanhar o autocarro até ao Saldanha.
Finalmente chega ao trabalho. Terminam as primeiras oito horas. São 16h e para Sandra o dia está longe de terminar. Dirige-se para o Marquês de Pombal para trabalhar mais oito horas.
Meia-noite. Agasalha-se e corre para a paragem. Sorri por ainda conseguir apanhar o autocarro, depois volta a sorrir por ele ter chegado ao destino a horas e, assim, conseguir apanhar o Comboio até ao Entroncamento.
É de madrugada.
Descalça-se e estende-se na cama. Está estafada. Olha para o telemóvel e nem uma chamada, nem uma mensagem. Naquele T1 ainda por mobilar, Sandra encontra-se sozinha. Sem ninguém. Correcção: Sandra, apesar de tudo, não está só. Sandra tem-na a ela e ao seu filho.
9 meses de força, de coragem, de luta. 9 meses a sorrir por ver a barriga a crescer e a ouvir o seu bebé.
A sua casa, apesar de modesta, já reúne todas as condições para receber o seu filhote. Sandra não se farta de sorrir por ver aquele quartinho que, apesar de também ser seu, tem o cheiro a bebé.
Está na hora. Telefona para o 112. Espera. Espera. Espera.
A ambulância chega e leva-a para a maternidade.
Sente as dores normais do parto, nada que a faça temer. Finalmente, ouve o choro do seu filho, sorri e continua a sorrir e, apesar do cansaço, não se deixa adormecer. Quer estar junto ao seu filho, junto ao seu maior Amor. Quer sentir-lhe o cheiro, o calor, a força e a garra de uma nova vida.
Ninguém a vem ver. Inevitavelmente, pelo rosto de Sandra escorre uma lágrima longa que parece não ter fim. Sente-se desprotegida de amor daqueles que a viram crescer e que, supostamente, a amariam incondicionalmente.
Rapidamente seca a lágrima e, cheia de força, levanta-se e diz que quer ir para casa, que está bem e que não consegue estar ali inerte a ver o tempo a passar.
Chega a casa.
Deita o pequenino André no berço e, ao vê-lo a dormir, tem a certeza que um filho é sempre amado, seja qual for a altura da vida.
Carminho rapidamente regressa à faculdade.
Afonso fica com os avôs ou com a ama.
4 anos depois, Carminho é licenciada no curso que sempre sonhou. Trabalha. Casa.
Carminho, vive feliz.
Sandra é Mãe – mãe solteira - e trabalha afincadamente para que o seu filho tenha tudo aquilo a que tem direito. Porque ela ama-o e sabe que com dedicação, trabalho e força de vontade tudo se consegue.
Dois anos depois regressa à faculdade.
É Mãe. Trabalha. Trabalha. Trabalha e estuda.
Rapidamente tira o curso que sempre sonhou.
Agora, a trabalhar naquilo que gosta e com um filho a correr-lhe para os braços – apesar de nunca ter duvidado – tem agora a certeza que a sua escolha nunca, mas nunca poderia ter sido outra.
Sandra, vive feliz.
Eu voto não . Pela Sandra e pela Carminho. Por todas as mães.
Por mim.
Madalena - as cores da vida
Segunda-feira, Fevereiro 05, 2007
Será uma contradição muito grande dizer que gostei do teu conto, apesar de ter votado sim sem ter hesitado? Pois então que seja...
ResponderEliminarTenho esperança que haja muitas Carminhos e Sandras como as que descreves. Mas também espero que haja a liberdade para apoiar todas as outras que a vida não lhes permitiu ter uma existência menos dolorosa...
Beijo.
Comecei a ler o teu conto e não parei enquanto não o acabei.
ResponderEliminarMuito bem descrita e escrita a vida de duas mulheres. Ambas fizeram a sua escolha.
Eu também fiz a minha votando sim.
Sim à despenalização!
Beijinho
P.S. Agradeço a tua visita lá no andando...
Olá prima,d ecidi fazer-te uma visitinha ^^
ResponderEliminarAdorei a tua versão, apesar de eu ser a favor do aborto.
Uma coisa que escreveste no teu textinho que se a minha 'stora' de filosofia lêsse começava logo a reclamar:
"Sandra é Mãe – mãe solteira - e trabalha afincadamente para que o seu filho tenha tudo aquilo a que tem direito. Porque ela ama-o e sabe que com dedicação, trabalho e força de vontade tudo se consegue."
A parte do trabalhar afincadamente para que o filho tenha tudo a que tem direito, é a mãe estar a colocar á frente do filho os bens materiais.
Enfim, as coisas que me ficam na cabeça depois de aulas de filosofia.
Adoro-te ♥
Voilà o exemplo perfeito da ignorância materializada num texto sentimentalista, barato e parolo, decorado de lugares comuns. Felizmente que a maioria dos portugueses sabe que nem sempre é assim, que nem sempre um filho é desejado. Querida, parece-me que conheces muito mal o Mundo. Sai do teu cocoon idealista, onde há sempre dinheiro para pagar uma ama, onde há sempre avós dispostas a tratar dos netos enquanto se acaba uma "licenciatura com que sempre se sonhou". Haja paciência!
ResponderEliminarNuno e anag,
ResponderEliminarvimos as coisas de outra forma, só isso. Somos Humanos e, como tal, não somos iguais. E confesso que me custa saber que existem abortos devido há falta de maturidade - irresponsabilidade. Eu sei que cada caso é um caso. Mas sejamos justos, a maioria não pensa nas consequencias e depois quem sofre é o bebé. E isso irrita-me profundamente...
Enfim, já falei imenso sobre este assunto e o que está decidido está decidido, por isso fiquemos por aqui que este é daqueles assustos que, seja qual for a opinião, há sempre muito que falar, muito que sentir...
Um beijinho, aos dois :)*
Joanita, minha querida,
na história se há uma menina que tem tudo há outra que não tem nada... o dinheiro não cai do céu e a pessoa só vive se se alimentar... E se uns precisam de trabalhar menos, outros precisam de trabalhar mais, muito mais... No entanto, podem amar os filhos da mesma forma ou ainda mais... ;)
Percebo o que quiseste dizer, mas acho que neste caso não faz muita lógica... ;))
Beijinhos e fiquei contente por teres vindo aqui... ;P
ADORO-TE!*
Caro Wake-up-to-reality,
parece-me que não leu o texto como deve ser. Porque se eu referi 'a menina que tem tudo' também referi a que nada tem. Logo, se há quem tem a sorte de ter pais que ficarão com os netos, tb há quem não tem essa sorte. Eu sei disso. O que não implica que, por isso, se vá fazer um aborto. Ah e tal, estou sozinha no mundo sem qualquer espécie de ajuda, o que vou fazer? Olha, vou abortar. Por favor, tem dó. Sei perfeitamente (!!!) do quão pode ser duro viver neste Mundo, mas também sei que a solução não é, de todo, matar um filho.
Agradeço a visita. ;)
Duas vidas, dois destinos. Que acabaram dando fruto por opção. Mas a vida é feita de opções e cada um deve ter consciência do que é melhor para si. Porque vai ter de viver consigo própria.
ResponderEliminarE SIM, obviamente, à despenalização, porque quanto ao aborto ele deverá ser, em todos os casos, a derradeira solução, não uma forma de evitar uma gravidez indesejada.
BeijInha grande.
Desta Tia.
Inha
;)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarApesar de ter Votado Sim.
ResponderEliminarGostei muito do teu Conto...
Deixa a pensar...
:)
Beijinho*
Feliz dia.
ResponderEliminarpois uma pessoa vai gostando vai gostando até chegar à parte final, menstruações há muitas é só isso que um aborto mata, filhos podes ter todos os meses, tem fá.
ResponderEliminarwww.motoratasdemarte.blogspot.com
www.videodroma.blogspot.com