sexta-feira, outubro 23, 2009

41 - Estrela

Adormeço enquanto a Estrela, ao longe, continua a sua caminhada.

Na mão leva o cesto que a alimentará por alguns dias, não muitos. Por cima do seu cabelo loiro, a fita castanha que a mãe lhe dera. E no olhar suporta a esperança de abarcar uma nova vida, onde os sonhos se transfigurem e passem a ser a sua mais bela realidade.

Esta menina tem corpo de bailarina, voz de fadista e alma de poeta.

Os pés doridos fazem crer que a sua [primeira] caminhada estará a chegar ao fim. Os sapatinhos, feitos pela avó, vão-se despedaçando, mas não a abandonam. O silêncio daqueles dias absorvem-lhe por completo, mas o sorriso estampado no rosto faz emergir toda a confiança que tem, ou que aprendeu a ter.

Esta Estrela há-de brilhar. Vai voltar a nascer e, desta vez, vai vencer. Não haverá Lobos capazes de a consumirem, nem Ovelhas capazes de a enganar. Desta vez, a menina de olhar doce, não se deixará iludir. Cantará de cada vez que a voz da Desistência teimar em se ouvir. Cantará para preencher o vazio daqueles que ela tanto ama, aqueles que deixara aquando o início desta sua viagem.

Transporta a sede de uma ânsia descomunal, que não se prende com preconceitos. Uma sede sem limites, insaciável.

Esta Estrela há-de brilhar. Pisará todos os palcos existentes e permanecerá naquele que a faz tão feliz, aquele que a completa, preenche e que lhe devolve a paz de que necessita. Esta menina, de sorriso no rosto, de olhar simples, de palavra sincera, que magoa quem assim não o é, será figura de cartaz e fará jus ao seu nome: Estrela.

Será naquele pequeno lago que verá o seu reflexo, a sua imagem que pretende manter, o olhar que não quer perder, pois quer ser estrela, sem deixar de ser a Estrela.