quarta-feira, outubro 25, 2006

24 – Amor maternal

Adormeces e acordas dentro de mim. Vivemos juntas neste abraço eterno que é só nosso. Deixamos que os nossos olhos sorriam porque é assim que queremos viver; porque é assim que eu te quero ver a crescer, sempre com esse sorriso de criança, com esse sorriso que me alimenta e que me faz ficar assim, a olhar eternamente para ti.

Conheço-te. Sei quando os teus olhos me falam, porque tens a mania de falar assim, sem mexeres os lábios e, de olhar brilhante, vais segredando. Eu oiço-te, mesmo no meio desta Vida que é tão barulhenta, ou será tão silenciosa? Porque não há ninguém que queira ouvir e porque é assim que se vai vivendo, caminhando sempre num espaço oco de sentimentos e de desejos de amar.

Mas eu sei que serás, que já és um ser humano muito bonito e feliz.E, se um dia, tudo isto tiver que terminar, então que termine como tudo começou: com um sorriso. Porque somos humanos e nascemos a chorar e morremos a sorrir.

domingo, outubro 22, 2006

23 - ping-pong

Ping-pong
É o nada que me preenche
É a chuva que me seca
São os teus olhos que me cegam

És amor. És o todo que me faz falta,
Porque me matas de todas as vezes que te sinto aqui,
Presente e vivo,
Dentro de mim

Ping-pong
É assim

sábado, outubro 14, 2006

22 – Palavras para o menino

É segunda-feira e, por isso, Sara decide deixar o carro estacionado à porta de casa e ir de comboio. Hoje tinha uma tese importante para apresentar. Estava segura de si e, por isso, deixou o nervosismo de lado. Entra no comboio, escolhe um lugar junto da janela, senta-se e acomoda-se. Cinco minutos depois, ouve uma voz feminina que a informa que o comboio sofreu uma pequena avaria, mas o tempo para que tudo volte à normalidade é indeterminado.
Começa a olhar sistematicamente para o relógio. Os minutos parecem passar à velocidade da luz e o comboio continua ali, parado. Logo se apercebe que de nada lhe serve estar para ali meio que eléctrica e a sofrer por antecipação. Acalma-se e tenta olhar à sua volta. E ali estava o menino que ela fizera sorrir e que nela provocara um sorriso, também. O doce menino, cujo nome ela não chegara a saber, tinha uns olhos grandes, castanhos-escuros e tristes. O pequeno moreninho, de olhar sempre para baixo parecera ter medo do mundo. Os seus 6 anos, se tanto, deveriam ter sido vividos de maneira errada, daquela maneira que nenhuma criança deveria saber, conhecer e viver.
E, quando ganhou coragem, olhou para ela muito timidamente e quando os olhos deles se fixaram ele baixou de imediato o rosto. Ao seu lado, estava um homem sujo e de aspecto cruel, será, talvez o pai daquela criança sem vida.
Toda a viagem foi feita assim: olhares cúmplices que trocavam palavras silenciosas, que faziam o menino sorrir. No final, quando a viagem terminara para Sara, sorriram os dois, baixinho, e agradeceram-se mutuamente, em segredo.

quarta-feira, outubro 04, 2006

21 - Um novo corpo, uma nova alma

Dizes que estou mais bonita. Achas que estou apaixonada e que é por isso que ultimamente os meus olhos têm brilhado tanto, mas tanto que chegam a iluminar o caminho mais escuro e sombrio. Eu não me atrevo a comentar. Sorrio, apenas. Um sorriso que me torna cúmplice dessa tua afirmação. Não tenho medo em confirmar-to, mas é-me tudo tão estranho. É claro que já estive apaixonada e é por isso mesmo que não entendo estes novos sentimentos que originam novas reacções.
Eu fico perplexa a olhar para ele e, quando isso acontece, o Mundo até pode acabar que eu não irei notar.
De todas as vezes que me apaixonei soube controlar perfeitamente os meus desejos e os meus olhares, embora quisesse ficar perto dele. Não sei porquê, mas desta vez é diferente. Para além de pensar nele constantemente, os tais olhares que, até à data, eram controlados ficam agora sem rumo. Não os consigo dominar, aliás, são os meus olhos que me dominam e que fazem com que eu sinta que toda a gente se está aperceber do meu sentimento pelo Artur, mas que, mesmo assim, eu continuo a olhar... A olhar...

Ele tem uns olhos lindos. Lindos e poderosos! E, talvez seja essa a razão, que leva o meu olhar a desviar-se do dele. Não sei se o meu corpo irá aguentar, no dia em que os meus olhos se fixarem nos dele.

Por agora, contento-me apenas por deslumbrar aquela imagem que me tem mantido viva e, de novo, apaixonada.