É segunda-feira e, por isso, Sara decide deixar o carro estacionado à porta de casa e ir de comboio. Hoje tinha uma tese importante para apresentar. Estava segura de si e, por isso, deixou o nervosismo de lado. Entra no comboio, escolhe um lugar junto da janela, senta-se e acomoda-se. Cinco minutos depois, ouve uma voz feminina que a informa que o comboio sofreu uma pequena avaria, mas o tempo para que tudo volte à normalidade é indeterminado.
Começa a olhar sistematicamente para o relógio. Os minutos parecem passar à velocidade da luz e o comboio continua ali, parado. Logo se apercebe que de nada lhe serve estar para ali meio que eléctrica e a sofrer por antecipação. Acalma-se e tenta olhar à sua volta. E ali estava o menino que ela fizera sorrir e que nela provocara um sorriso, também. O doce menino, cujo nome ela não chegara a saber, tinha uns olhos grandes, castanhos-escuros e tristes. O pequeno moreninho, de olhar sempre para baixo parecera ter medo do mundo. Os seus 6 anos, se tanto, deveriam ter sido vividos de maneira errada, daquela maneira que nenhuma criança deveria saber, conhecer e viver.
E, quando ganhou coragem, olhou para ela muito timidamente e quando os olhos deles se fixaram ele baixou de imediato o rosto. Ao seu lado, estava um homem sujo e de aspecto cruel, será, talvez o pai daquela criança sem vida.
Toda a viagem foi feita assim: olhares cúmplices que trocavam palavras silenciosas, que faziam o menino sorrir. No final, quando a viagem terminara para Sara, sorriram os dois, baixinho, e agradeceram-se mutuamente, em segredo.