quarta-feira, dezembro 08, 2010

52 – desiludi-me

A alma grita. Não consigo esperar. Deixo o livro e pego, quase que bruscamente, no lápis que, rapidamente, se apodera de mim. Preciso expulsar estes sentimentos que, aos poucos, vão-me enfraquecendo. Ridicularizam-me. Até eu, tenho vergonha de mim. Falho. Só falho. Ultimamente, falhar poderia ser o sinónimo do meu nome, do meu corpo, da minha voz, do meu jeito de viver. Não sou assim. Descubro-me. E até essa descoberta me magoa, não estava preparada.

Deixo-me ir, assim, desengonçada. Puxo por mim, arrasto-me... mas parece não chegar, estou demasiado pesada para caminhar; demasiado sonolenta, para acordar; demasiado triste para mudar...

Mas, enquanto o lápis escrever, enquanto a mente imaginar, sei que a solidão não é total, sei que a melancolia, fria e trémula, é compreendida. Tenho o abraço destas palavras que, mesmo que tristes, sorriem-me e abraçam-me. Confortam-me e fazem-me acreditar...

quarta-feira, dezembro 01, 2010

51.2 – cancro

[CONTINUAÇÃO]

A cabeça explode; o cabelo cai e Laura sente-se triste. Com força, mas triste. Às vezes quase que se deixa cair e pensamentos destruidores apoderam-se dela.

A última ida ao médico terá sido dolorosa… finalmente confrontou-se com a situação. Agora sim, está disposta admitir: a si e aos outros.

Terrivelmente pálida, concentra-se para poder caminhar. Pé ante pé. Devagarinho. Muito devagarinho. Sem pressas. As vozes que escuta, de mulheres já velhas, ditam a sentença que Laura recusa aceitar como sendo sua. Assim, embora não possa ignorar, fecha os olhos e deixa-se levar pelo seu próprio olhar; aquele olhar repleto de histórias para contar, de risos vividos e por viver, de sonhos realizados e por realizar. Ah, aquele olhar... é esse olhar, que ela não vê, mas sente, que a faz continuar acreditar e, assim, deixar o seu diário, deixar de nele escrever as suas fraquezas e de quanto a sua alma chora; deixar que aquelas páginas em branco quando rasuradas com a sua caligrafia ferida, em sangue corrente, a perturbem só de imaginar que, um dia, alguém as poderá ler… o diário terminará, mesmo antes de Laura poder escrever «venci, finalmente o pesadelo terminou e eu venci». Ela sabe que tudo só depende dela e que as nossas fraquezas fazem parte..., que não temos que estar sempre a rir, que não temos de fazer do nosso sorriso bandeja nem oferecê-lo quando não o sentimos...; ela sabe que há dias assim, há meses assim...; ela sabe que há acontecimentos que não se podem mudar, mas a forma como se reage a eles poderá ser, ou não, fatal. E aqui reside a diferença, é aqui que se separam os que desistem dos que lutam e persistem! Por isso, mesmo sem diário onde possa escrever o tal final feliz, ela vive dia-a-dia e hoje, hoje ela pode dizer «venci, mais um dia e venci». Sorri e continua a caminhada...

[FIM]