quinta-feira, janeiro 14, 2010

44 - para onde foi a nossa alma de criança?

São tantos os momentos que me ligam a ti, carregados duma intensidade que os proíbe de se evaporarem da minha memória, onde tudo acontece. Sem ver, abusa-se no sentir. Sobre o doce olhar que me guia, eu penso em ti. E tu, pensas em mim? Pergunto-me, enquanto o chocolate quente me aquece o corpo, a alma. Parece que ninguém é capaz de te dar a conhecer o Amor, aquele que tantos anseiam encontrar na sua eterna procura. Descansadamente, sorris e fazes troça de mim. Passas tantas vezes por mim e, com aquele olhar indiferente, segues o teu caminho. Depois, lentamente, olhas para trás e vês-me partir. O Senhor Manuel, do café junto à escola primária, fez-me essa confissão e ainda me disse ‘menina, olhe que o seu rapaz qualquer dia ainda se perde’. Corei como se ainda tivesse 7 anos, como se ainda estivesse na escola primária, como quando pegavas na minha mão e dizias ‘quando formos grandes casas comigo?’. Só o Senhor Manuel continua a trabalhar, no mesmo café. Tudo o resto mudou. Mais velhos, mais complicados e distantes um do outro, embora trabalhemos no mesmo escritório, assim vamos vivendo. Todos dizem que gostamos um do outro. Como é que ‘todos’ se apercebem disso? Todos menos nós. Acabamos por cair num ciclo ridículo, onde a paixão dera lugar a um amor que é vivido em segredo, porque o medo corrói-nos. E é com esse medo que vivemos. Sozinhos, sem partilhar doces chupa-chupas, fingimos que nenhum de nós existe. Fingimos que não gostamos um do outro e deixamos a nossa alma de criança por aí, algures perdida, algures enterrada.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

43 - tua alma

recordar-me de ti
é ganhar a força de que preciso
para resistir à tentação
de te abandonar sem aviso

os olhos que deixam de ver
e a alma que deixa de sentir
só tu alcanças o meu espírito
e não me deixas desistir

posso fingir que não te escuto
e demonstrar uma raiva que não sinto
mas sorrio, por dentro,
por te ter aqui comigo

liberta-me de mim, por favor
ajuda-me a sentir,
agarra-me e não me deixes cair
para que possa renascer e assim poder viver

suavemente libertam-se gritos de dor
onde só os olhares mais cúmplices
fazem a menina levantar-se e agradecer
por este seu amigo não a deixar morrer