sexta-feira, agosto 04, 2006

13 - Um jantar; uma nova vida

Hoje o Miguel veio a nossa casa. A Ana chegou mais tarde, como sempre. Ela está igualzinha, até parece que o tempo não passou por ela: continua vaidosa, bem-disposta e sempre com um sentido de humor que, por vezes, a tornavam indelicada. Igualzinha aos tempos de adolescente, sempre a chegar atrasada fosse onde fosse. Já ninguém lhe dizia nada, porque já sabiam que ela era assim e tinha a necessidade de dar nas vistas e, ao chegar atrasada, e sempre tão espampanante dava nas vistas, de certeza. O Miguel não, era discreto e sempre pontual; cuidava muito do visual e nisso era igual à Ana, mesmo que ele fizesse questão em dizer que não; era intelectual, sabia sempre tudo, era o génio do liceu. E eu... Ah, eu acho que tinha um pouco dos dois. Talvez fosse a mais ponderada, sem grandes extremos. Se o Miguel nunca queria dar nas vistas acaba sempre por o fazer por ser pacato e com um ar muito anti-social. Eu era aquela que discretamente, sem ser assunto de conversa, estava sempre presente nas festas, era uma aluna mediana, social e com uma grande queda para o desporto. Ah, faltam os gémeos. O Jorge e o Gustavo. Bem, o Jorge era o mais estranho de todos nós e hoje percebemos porquê: é gay. Nunca desconfiámos porque o Jorge parecia ter dupla personalidade e isso confundia –nos e era tão bonito, mas tão bonito que ser gay ou ir para padre jamais nos passara pela cabeça. Mas hoje é um grande arquitecto, muito bem sucedido internacionalmente. O Gustavo... O rapaz por quem me apaixonei e o homem com quem casei. Os cinco e inseparáveis amigos, tão diferentes e, por isso, sempre tão unidos. Acho que nos completávamos.

Tanto a Ana como o Miguel continuam sozinhos. São complicados, eles. Escolhem demais e acho que esse é o problema. O Gustavo foi ter com o irmão, Jorge, a Nova Iorque e eu decidi convidar o Miguel e a Ana que já não os vejo há cerca de seis anos. Credo, como o tempo passa! Sempre pensei que um dia, se tivesse sem emprego, iria para Cupido. Era boa nisso! Mas a Ana e o Miguel foram o casal mais difícil de unir. Mas eu achava que ao fim de tantos anos, depois do coração tanto bater de tantas saudades eles iriam perceber o quão gostam um do outro e, finalmente, entregarem-se nos braços um do outro.
Foi uma noite inesquecível. Lá fora a chuva escorria sobre os grandes vidros da sala e nós, cá dentro, falávamos e falávamos e riamos e riamos. Relembrámos tempos antigos, episódios que eu, mesmo tão nostálgica, já tinha esquecido. E, de repente, a química entre o Miguel – que agora tinha cá um charme, em que os óculos e o ar de menino intelectual deram lugar a um homem seguro e elegantíssimo – ah se eu não fosse casada! – e a Ana – em que as purpurinas deram lugar a uma maquilhagem suave e discreta, que realçavam a sua verdadeira beleza – fizera-se notar. Eu, com aquela veia dramática que, infelizmente ou não, nunca a aproveitei, inventei uma situação e representei-a e, assim, lá consegui sair da minha própria casa deixando-os completamente a sós. Quando cheguei já cá não estavam. Deixaram um bilhete:

Mariana,
obrigada pelo jantar, estava tudo óptimo.
Esperamos que a tua tia já esteja melhor.
Agora estamos com pressa, mas daqui a pouco tempo irás receber notícias nossas.
Um beijo,
Ana e Miguel.


Duas semanas depois e recebi um postal de Las Vegas. Um postal da Ana e do Miguel que, após terem sabido que não havia tia nenhuma e, muito menos, que estava doente, disseram:

Querida Cupido Mar,
Como nos pudeste fazer isto, hein?!
Se estivéssemos aí bem sabes o que te aconteceria.
Adoramos-te e tu sabes disso, mesmo que estejamos tanto tempo sem nos vermos, mas o grande e o verdadeiro amor nunca morre e nós somos a prova disso.
Eu e o Miguel estamos muito felizes e é a ti que devemos tamanha felicidade.
Tu não mudas mesmo!
Um beijo a quem me mudou a vida. Agora já não acordo sozinha e tu tens bem a noção da gravidade da situação?! Eu, Ana, a miss beleza, a ser admirada quando acorda estando completamente natural. Que bonito. Com um simples gesto conseguiste-me mudar.
Não te esqueço.
Até...!


Gosto destes jantares, em que tudo muda...

25 comentários:

  1. Era bom que todas as histórias tivessem um final destes...

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  2. Aposto que foi tudo efeitos da paparoca, há quem diga que faz milagres! eheh

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  3. oh pah, tão lindooooooooo!!
    Perco-me com uma história de amor com final feliz :-)

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  4. mmmm aqui há história...

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  5. Marta R,
    mas há histórias que são vidas, por isso... Nem todas podem acabar assim!*

    Sapito,
    hehe, é capaz, é capaz... :P

    Ana,
    e quem não se perde?! ;-)*

    Mónica,
    hmm, gato?! ;-P

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  6. Eu também gostava que houvesse mais histórias assim, o mundo bem precisava de mais amor. Mas infelizmente, Cupidos há poucos, né? E às vezes é muito fácil ligarmos o complicómetro e passarmos ao lado do que não devíamos perder. Acho eu...

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  7. gosto de finais felizes!Mas realmente é importante darmos valor a quem o merece e nem sempre fazemos isso!
    Vim despedir-me, vou de férias!Deixei-te lá uma beijoca no meu blog!!

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  8. Divinal!
    Fantástico!
    Delicioso!
    :-)
    fiquei com nózinhooo na gargantaaa!!!

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  9. Adorei a história... porque eu sei que existem sentimentos que podem permanecer escondidos e intactos durante anos... e todos os dias crescem mais um bocadinho e todos os dias se revelam mais outro bocadinho!...
    bjs

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  10. :)
    Gosto de histórias com finais felizes!

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  11. Eu como romantica que sou adoro um bonito final feliz!
    Parabens!
    Beijinho

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  12. A história está uma delícia. És uma excelente contadora. Quando tiveres netos não te vão largar!

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  13. Olá,
    nc é demasiado tarde para reconhcer q erramos, para tentar mudar.. bj

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  14. Coisa Linda!!!
    Gostei do Final...
    Bejocas (torno a voltar)



    ps.Thanks pela visita

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  15. Se nós pudessemos fazer com que a nossa vida tivesse um final como uma história...

    beijos

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  16. Olá
    fico feliz por esta história ter tido um final feliz!
    eu vou de férias amanhã e até meados de setembro vou estar ausente da net e da rotina, só assim conseguirei aguentar mais um ano com um sorriso no rosto... Bjhs com sabor a maresia

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  17. Voltei! :))

    Já vi que tb tens costela de cupido... é bom, não é? ;)

    Beijo grande!

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  18. Cá para mim.. essa comida tinha uns pózinhos mágicos :P

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  19. Mas que grande cupido e que final feliz!

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  20. desculpa a invasao mas li a historia e nao pude deixar de comentar.... adorei....

    grande cupido.... :)

    um beijinho

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  21. ... Será que tudo muda? Que é mesmo uma nova vida?

    Gostei do texto.

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  22. Uma história como, na verdade, toda a gente gosta! :-)

    Um beijo e um muito obrigada pelos vossos comentários. Agradeço!!! :-)*

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  23. Ai ai... se o destino fosse assim tão fácil de escrever! :)
    Adorei na mesma!

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  24. No entanto, esta tua história fez sorrir todos os meus lados!!
    Um beijinho

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