Nunca quis ser jogador de futebol, actor ou até médico como a maioria dos jovens. Quis ser poeta! Nasci e cresci no seio de uma família pobre o que me agradava pois sempre achei que os grandes poetas tinham sempre grandes histórias de vida e eu acreditava que sendo um menino vestido com alguns trapos, por vezes, rotos, teria uma sensibilidade maior do que qualquer outro ser. E tinha. Assim que aprendi a ler comecei a devorar todos os romances que, na altura, existiam. Apaixonei-me pela história de amor de Romeu e Julieta, de William Shakespeare e, com eles, chorei. Lia à noite, por debaixo dos colchões, usando uma pequena vela que se colocava na mesa ao lado. Aos meus pais, que queriam apenas que eu estudasse para um dia ser um senhor doutor, dizia que o escuro da noite me assustava e, por isso, a luz da vela era indispensável para que pudesse adormecer sossegadamente. Meses depois, de muita leitura nocturna, quase sem luz, fui obrigado a usar óculos e gostei. Os óculos faziam de mim um rapaz intelectual, no fundo, como todos os grandes poetas. E o centro de Lisboa, que me via acordar e adormecer todos os dias e todas as noites dava-me a inspiração que eu necessitava para escrever. E eu escrevia, escrevia e escrevia. As palavras saíam-me facilmente e, com a mesma facilidade, fazia versos e construía poemas. Eu gostava do que escrevia e sempre me achei capaz de criar grandes obras. Livros de quinhentas páginas, que toda a gente lê e que eu, ao passar na rua, seria reconhecido por todos. Imaginava um futuro brilhante e, até mesmo quando eu morresse, todos iriam falar naquele menino tão simples e pobre que nascera em Lisboa e cujo talento lhe fizera conquistar meio mundo. Eu passava o dia a sonhar... E era feliz por pensar que um dia o ia ser verdadeiramente.
Adorava andar pela rua, de pés descalços, respirando o ar daquela cidade que, na altura, era tão mais saudável. E, enquanto os meninos lá fora iam jogando à bola, eu preferia isolar-me num cantinho que era só meu, que eu descobri para poder escrever. O meu pai é que se fartava de reclamar pela minha fraca estrutura óssea e, nessas alturas, fazia um sorrisinho e um ar angelical e voltava para o meu refúgio. Naquela altura, as horas custavam a passar. A televisão, mesmo a preto e branco, era coisa rara e eu fazia parte dos milhares que sempre que via uma ficava boquiaberto e é claro que as poucas vezes que consegui olhar para uma era sempre na casa de um amigo de famílias mais favorecidas. Mas esses bens materiais nunca me fizeram falta. Eu só queria ser poeta. E fui... Um fraco e falhado poeta, mas fui. Milhares de sonhos foram destruídos no momento em que decidi levar uns quantos poemas a uma editora. Lembro-me como se fosse hoje, todos os editores por onde eu passava, que não eram muitos, assim que liam a primeira quadra olhavam para mim e desatavam-se a rir. E enquanto eu queria ser reconhecido pela qualidade da minha escrita, os editores em questão achavam que eu poderia funcionar bem a nível de mercado. E, nos primeiros meses, tudo funcionou como eles queriam. As vendas tinham aumentado imenso e eu preenchia as capas de todas as revistas e jornais da região. Depois... depois, nem a proeza de ter sido classificado como o pior escritor do século me fez continuar no tope. E, assim, os sonhos de criança foram talentosamente destruídos e, o que me valeu, foi que ainda fui a tempo de recomeçar a estudar... E hoje sou médico, sou infeliz, mas médico!
Adorava andar pela rua, de pés descalços, respirando o ar daquela cidade que, na altura, era tão mais saudável. E, enquanto os meninos lá fora iam jogando à bola, eu preferia isolar-me num cantinho que era só meu, que eu descobri para poder escrever. O meu pai é que se fartava de reclamar pela minha fraca estrutura óssea e, nessas alturas, fazia um sorrisinho e um ar angelical e voltava para o meu refúgio. Naquela altura, as horas custavam a passar. A televisão, mesmo a preto e branco, era coisa rara e eu fazia parte dos milhares que sempre que via uma ficava boquiaberto e é claro que as poucas vezes que consegui olhar para uma era sempre na casa de um amigo de famílias mais favorecidas. Mas esses bens materiais nunca me fizeram falta. Eu só queria ser poeta. E fui... Um fraco e falhado poeta, mas fui. Milhares de sonhos foram destruídos no momento em que decidi levar uns quantos poemas a uma editora. Lembro-me como se fosse hoje, todos os editores por onde eu passava, que não eram muitos, assim que liam a primeira quadra olhavam para mim e desatavam-se a rir. E enquanto eu queria ser reconhecido pela qualidade da minha escrita, os editores em questão achavam que eu poderia funcionar bem a nível de mercado. E, nos primeiros meses, tudo funcionou como eles queriam. As vendas tinham aumentado imenso e eu preenchia as capas de todas as revistas e jornais da região. Depois... depois, nem a proeza de ter sido classificado como o pior escritor do século me fez continuar no tope. E, assim, os sonhos de criança foram talentosamente destruídos e, o que me valeu, foi que ainda fui a tempo de recomeçar a estudar... E hoje sou médico, sou infeliz, mas médico!
meu querido poeta
ResponderEliminarUm doce e terno beijo. Ama, voa,sonha, viv a vida...
"os sonhos comandam a vida", é o verso de uma qq cançao q me ocorreu assim q terminei a leitura... gstei. e acho q nc devemos de desistir dos sonhos.
ResponderEliminarConfesso que a frase pronunciada no fim das história "sou infeliz" deixou-me sem qualquer reacção. o que realmente falta para que uma pessoa seja feliz? Será que por vezes a culpa não será nossa por não aproveitarmos as pequenas coisas da vida?
ResponderEliminarCada pessoa idealiza para sim mesma o que realmente a faria feliz. Espero e desejo que tambem continue a idealizar.
E no próximo texto termine com um simples "sou feliz"
Beijos
Sofia
Muito bom mesmo... parabéns.
ResponderEliminarEu acho sempre que devemos fazer tudo para que possamos concretizar os nossos sonhos, ainda que depois de concretizados possam surtir efeitos que não pretendíamos... mas pelo menos tentamos... Nunca ficaremos a pensar "e se...". Quanto à felicidade... todos a ambicionam, mas nenhum é capaz de a atingir, se o conseguisse a vida deixaria de ter sentido e seriamos por isso mesmo, infelizes...
Porque não um Médico Poeta. Acho que uma profissão não envalida a outra. A felicidade conquista-se pouco a pouco, e não se pode deixar nunca de sonhar.
ResponderEliminarO teu texo é no meu ver muito bom.
Beijos
olá, boa tarde ;)
ResponderEliminarvenho retribuir e agradecer a tua visita
gostei imenso de conhecer este espaço de qualidade
fico leitora!
beijinhos,
alice
Boa noite a todos os que aqui estão e que por aqui passarem :-)
ResponderEliminarFica um beijo*
Quem és tu e porque só agora tens um blog? Eh eh eh
ResponderEliminarEstou a brincar, apenas para te dizer que gosto imenso do que escreves. Continua, por favor.
Beijos.
Hum... :)
ResponderEliminarTexto aparentemente simples. Quase irónico, contudo.
Não fossem os médicos os melhores e maiores poetas e, eu até ficaria triste pela "infelicidade"!
A vida e a morte e suas nunaces, os estados de alma... ninguém como os "ditos" as conhece tão bem...
Aguardemos os escritos do Sr. Dr. :)
Mais um beijo.
Gostei bastante do teu blog!
ResponderEliminarUm bocadinho tristes os finais, mas, por outro lado, finais felizes estão um bocado fora de moda...
Fica bem,
Miguel
Gosto!
ResponderEliminarQuando era criança imaginava que apenas seria feliz como adulta quando pudesse viajar o mundo e conquistar os meus sonhos...
ResponderEliminarCom o tempo, comecei a fazer uma lista dos objectivos que queria atingir para ser feliz... fazer 18 anos, tirar carta de condução etc.
Descobri com o tempo que muitos dos meus objectivos tinham mais haver com o que eu achava faria-me feliz do que o que própriamente me alegrava...
E ainda mais tarde... descobri que a alegria está na perspectiva em que eu escolho ver o momento.
Eu queria ser professora, eu ainda sonho ser psicologa mas descobri que posso ser isso e mais se eu intender aplicar no meu dia á dia...
A anamoris é que disse bem... sê Médico poeta... nunca deixes de fazer aquilo que te faz sorrir.
"E, assim, os sonhos de criança foram talentosamente destruídos e, o que me valeu"
ResponderEliminarO que devo dizer... que estou agradecido por ter a chance de ler seu post... Pefeito, muito bom...
Sempre quis ser algo mais, algo alem do que meus pés pudessem chegar... Sempre pensei em ser alguém... Aquele alguém...
Hoje sou eu... Quase um ninguém...
Belíssimo post.
Bem hajam
Gostei muito...
ResponderEliminarVou voltar...
Bjs
Infeliz mas médico. quantos agora dizem o contrário por não o serem, porque no seu país lhes são fechadas as portas de acesso às universidades. Todos temos o direito à felicidade, à concretização do sonho, ao fim feliz. Mas como já ouvi dizer, ser feliz está fora de moda.
ResponderEliminarNo entanto aquilo que eu mais desejo é que sejas feliz. E já agora continua a gostar de caracoletas.
Um doce e terno beijo
LIndo este teu post...sonhos os eternos sonhos...
ResponderEliminarViver a vida...com momentos cheios de sol beleza e amor..
Gostei e voltarei
Beijo Maresi@
Coitado do rapaz, hoje homem, que queria ser poeta, mas olha... há coisas que não são para todos... Ele gostava do que escrevia, mas, ao que parece, era o único, loli
ResponderEliminarUm beijo a todos vós!*
Boa tarde!
... vá lá põe aí esses versos que faziam rir os editores
ResponderEliminar;)
Gostei do texto (tal como do anterior).
ResponderEliminarÉs uma mulher a narrar uma história como um homem. Não sendo incomum é pouco vulgar.
Beijinhos
Os sonhos nem sempre correspondem à capacidade de os realizar.
ResponderEliminarBom texto, uma narrativa muito equilibrada.
Beijos
Ainda hoje deixei aqui um beijo a todos vós, mas só agora reparei num comentário um tanto ou quanto curioso:
ResponderEliminarAna said...
Quem és tu e porque só agora tens um blog? Eh eh eh
Estou a brincar, apenas para te dizer que gosto imenso do que escreves. Continua, por favor.
Beijos.
6/7/06 22:28
Ana,
sou um mero mortal como tu! E só agora tenho um blog porque só agora chegou a oportunidade de o criar eheh
Também eu estou a brincar, apenas para agradecer o teu comentário que me pareceu bastante amável.
Obrigada!! E continuarei, sim...*
(e a mesma resposta poderá servir para o comentário seguinte ao da Ana, alfazema, que me colocou a mesma questão ;-)
Agora volto a deixar um beijo a todos os comentadores, mas agora um beijo de boa noite ;-)
:) bom fim semana
ResponderEliminarValerá a pena ser algo e ser-se infeliz ou não ser nada e sermos felizes?
ResponderEliminarNão sou nada, mas sou feliz!
Beijo, até outro instante
*Lindas cores que tens aqui!!
Infelizmente existem muitas pessoas como este poeta...
ResponderEliminarBom fim de semana ;)
Li a indicação do seu link no Blog da Santa. Merecida por sinal. Um grande abraço e um bom final de semana.
ResponderEliminarO que realmente importa é a força de vontade de sermos o que queremos. :)
ResponderEliminarNão é uma editora que faz um poeta.
ResponderEliminarPode é enriquecê-lo monetariamente, mas fazer poetas...
Já se nasce com o verbo nas veias.
O resto é conversa.
Gostei das tuas histórias :) Já tivemos um grande escritor que era médico, por isso... :)
ResponderEliminargostei:)
ResponderEliminarparabens!
E porque não um médico poeta? Há melhor poesia que ajudar pessoas, cura-las?
ResponderEliminarMuita gente deixa os seus sonhos profissionais para trás, so temos que mais tarde pegar neles e voltar a usa-los e pratica-los como segunda vida.
Concordo com este comment: um poeta médico! Não é inusitado e seria sempre uma óptima hipótese de vida!
ResponderEliminarqueria ser poeta, mas só ele via o talento que tinha, enquanto os outros se aproveitavam da sua escrita. não interessa se somos bons em algo, o que interessa é que o façamos com sorriso na alma
ResponderEliminar*
Pelo sonho é que vamos!!!...
ResponderEliminarÉs poeta, poeta de sonhos.
Beijinho
***
Gostei tanto....
ResponderEliminarVivam os sonhos...
beijinhos
O que é pena e triste, também, é vermos gente formada (ou não) e não realizada. Mas, pior mesmo, é quando essa não realização não é só profissionalmente, mas também pessoalmente...
ResponderEliminarEsperemos que o «menino tão simples e pobre que nascera em Lisboa e cujo talento lhe fizera conquistar meio mundo.» se sinta 'apenas' infeliz com a sua não-realização profissional...
Ele é um homem que, como todos os outros, passa por todas as amarguras da vida assim como nós... E, por isso mesmo, acredito que, mesmo assim, ele ainda consegue ser feliz...
Mas isso eu já deixo ao vosso critério eh eh eh
Obrigada a todos pelos vossos comentários :)
Beijos! :-)***
Antes de mais, agradeço o teu comentário no meu “blog”
ResponderEliminarLi e reli os teus escritos, principalmente este.
Gostei e apenas me ocorre dizer, escreves poemas em prosa.
Deixo um forte abraço. Voltarei.
Obrigada, Besnico :-)
ResponderEliminarVolta sempre.*
hoje, tás muito arroxado:)
ResponderEliminarbeijinhos a todos
Fico triste por saber que não faz o que realmente gostava de fazer.
ResponderEliminarNos tempos livres pode aproveitar para continuar a escrever, se essa actividade que o faz feliz porque terminá-la, o importante não é o reconhecimento dos outros, mas sim o sentirmo-nos bem connosco.