A Teresa tinha 15 anos quando entrou em coma. Era tão nova e tão bonita, mas julgava-se feia, descomposta, desengonçada e extremamente gorda. Se a situação não tivesse sido tão grave e problemática seria irónico para aqueles que conhecem a Teresa. Como é que uma rapariga de quinze anos, com um sorriso sedutor, alta e tão elegante poderá achar que não pertence aos padrões actuais da moda?! É tão ridículo como alguém pode quase perder a vida por uma estupidez dessas. E, chega-se a uma determinada altura, que o problema deixa de ser só dela para ser de todos aqueles que a amam.
Os pais, sempre falaram tanto com ela... E quando nas novelas ou nos jornais ou nas televisões abordavam o assunto da anorexia, os pais da Teresa diziam sempre que se, um dia, por acaso, isso lhes acontecesse, eles saberiam logo notar e nunca deixariam as coisas chegarem ao ponto de ter que haver internamento devido a perturbações graves e a problemas relacionados com a saúde. Mas, as coisas acontecem sempre tão rápido, e a Teresa era uma rapariga ajuizada e, na verdade, os pais nunca se sentiram ameaçados em relação a isso, porque conheciam a filha que tinham e não a julgavam capaz de passar por tal.
E foi tão fácil perder peso. Passou a ficar mais tempo na escola e, assim, foi tudo muita mais fácil, porque se era lá que passava a maior parte do tempo, era lá que, sozinha, teria que se alimentar e, incrivelmente, teve dias que não comia nada. E, em casa, sempre que, por algum motivo, a “obrigavam” a comer ela lá o fazia, mas em seguida tudo o que tinha comido era, de imediato, “expulso”. Na escola, acreditavam que era em casa que ela tinha as boas refeições e, em casa, julgavam que era na escola... Daí, a situação da Teresa, ter sido facilitada. As roupas eram largas para não se notar a perda de peso, o rosto ia ficando cada vez mais pálido, as tonturas eram constantes e a má disposição começava a ser diária. Dias, semanas, e até meses sem ser descoberto o problema da Teresa, embora as suspeitas já começassem. Mas foi a professora de matemática da Teresa que teve em atenção a sua situação e se apercebeu do seu problema. Alertou os pais e os amigos e foi difícil fazer com que a Teresa acreditasse que estava doente, pois ela insistia em achar-se gorda, mesmo quando chegou a pesar 36 kilos. Foram tempos terríveis que deixaram marcas. Fazia impressão olhar para o rosto dela, para as suas mãos em que a pela quase se desfazia; o cabelo, tão fraco, feio e a aquela cara, com pele enrugada e só ossos, faziam crer que estávamos a olhar para um cadáver. Era terrível e foi difícil para todos superar aquela situação. Hoje a Teresa sabe que nunca deveria ter feito o que fez, sabe que a beleza que ela realmente tinha perdera-a simultaneamente com todo o peso que perdeu e, aí, ficou realmente feia, deselegante e tornou-se numa pessoa desagradável porque psicologicamente continua afectada. Mas, apesar de tudo, a situação dela poderia ter sido bem pior se ela não tivesse o apoio que teve, o amor incondicional que nunca lhe faltou, mesmo nos momentos em que ela era arrogante e desagradável para as pessoas que a tentavam ajudar. Se assim não fosse, certamente ela nunca teria saído do coma e o destino mais provável seria a morte. Mas isso não aconteceu e, agora, anos depois, continua a tentar recuperar. Está gorda, mas dos imensos medicamentos que tem que tomar e, assim, desgraçou a sua vida, pelo menos a vida de menina feliz que dantes tinha e que jamais poderá recuperar. Agora, apenas tenta ser feliz com aquilo que tem e, sem dúvida, ama todos aqueles que nunca a deixaram, porque a amizade, porque o verdadeiro amor faz com que ultrapassemos as piores situações, mesmo aquelas que nos parecem sem solução.
segunda-feira, julho 31, 2006
11 - Anorexia
sexta-feira, julho 28, 2006
10 – A culpa é do Jazz
Sempre que nos encontramos o Jazz acompanha-nos. Foi ao som do Jazz que nos conhecemos e, foi ao som do mesmo, que eu me apaixonei por ti. Todo aquele instrumental, que nos fazia tremer e que, sem nos apercebermos, fazia com que as nossas mãos se tocassem e assim permanecessem até um de nós reparar. Vibramos só de olhar para os músicos que, com garra, tocam brilhantemente. E, por telepatia ou não, sentimo-nos capazes de amar o mundo e, naquele momento, sentimos que conhecemos todos aqueles que estão à nossa volta, a admirar toda aquela música que nos enche, por completo, as nossas almas. E, agora, é ao som do Jazz que eu escrevo; é ao som do Jazz que eu me lembro de ti e que penso como a nossa história poderia ter sido diferente ou, quiçá, ainda poderá vir a ser diferente. Será? Aprendi que eterno só mesmo as incertezas do ser humano, tudo o resto é efémero, mesmo o amor que se diz que é para todo o sempre. Até estas palavras que eu escrevo, agora, com tanto sentimento, amanhã ou depois já nada me dizem e, talvez, até chegue a pensar quem poderá ter escrito tal coisa, porque eu... Eu não fui...
Neste momento, a única certeza que tenho é que amar-te-ei até ao dia que deixar de amar o Jazz.
quarta-feira, julho 26, 2006
9 - Tu e Eu
Todas as noites me deixo escorregar e quando já estiver estendida no chão deixo-me permanecer assim. As lágrimas são infinitas sempre que penso em ti. Ainda sinto o cheiro da última vez em que os nossos corpos se tocaram; ainda sinto o sabor dos teus lábios a tocarem nos meus; ainda... Ainda te sinto.
É obsessivo este estado de dependência, este viver só para ti. O telefone toca e, por pensar que és tu, deixo tudo, deixo a minha vida só para ir ao teu encontro. Porque sofro se não estás, porque morro se contigo não estou; porque eu sou tu e tu és eu.
terça-feira, julho 25, 2006
8 - Quando existe a atracção mas falta o amor
terça-feira, julho 18, 2006
7 - Histórias verdadeiras
A música é o seu maior trunfo para conseguir vencer na vida. A música conhece-a como ninguém, sabe de todos os seus segredos e, assim, sempre que ela canta não há uma única palavra que seja dita que não tenha um significado, uma pequena história por contar. Todas as palavras são ricas, não só em significados, mas também em sentimentos; expressam desejos, ordens e valores; expressam a sensação do momento, o estado de espírito em que se está envolvido.
Ela ama as palavras. Respeita-as como pequenos grandes tesouros. E, sempre que a tristeza apertar, lá vai ela aumentar o som da aparelhagem e, assim, soltar tudo o que há em si. Remover a dor e, por conseguinte, substitui-la por uma sensação de bem-estar. Às vezes, ela quer esquecer tudo aquilo que a faz ficar presa ao passado. Às vezes, ela só se quer sentir livre: livre de amores, livre do medo... Livre de si e das suas histórias verdadeiras, mas sempre presa à música.
segunda-feira, julho 17, 2006
6 – Haja amor e tudo é possível
domingo, julho 16, 2006
5 - Escassa Vida
quarta-feira, julho 12, 2006
4 - Carta para o João
Foi quando fiz 20 anos que conheci o Bernardo. Sim, o Bernardo!, aquele menino rico e mimado, como tu dizias. Mas foi por ele que me apaixonei e foi com ele que, aos poucos, fui conhecendo todo o tipo de drogas.
Nós amávamo-nos muito! Ao fim de uns 3 meses de namoro fui notando alguns comportamentos menos normais por parte do Bernardo. Até que um dia, em que eu fui ter com ele à sua casa, ele me tratou de uma forma bastante agressiva e, em seguida, saiu a correr. Por momentos, cheguei mesmo a ficar assustada e, por isso mesmo, decidi segui-lo. Foi o maior choque da minha vida quando soube que o Bernardo era um toxicodependente. Respirei fundo e fui ter com ele. Olhámo-nos intensamente e depois abracei-o com toda a minha força. E, de mãos dadas, seguimos até casa. Ele contou-me há quanto tempo e como tudo tinha começado. Eu prometi que nunca o ia deixar de amar e, consecutivamente, nunca o iria abandonar. Afinal, mesmo sem saber, apaixonei-me por ele e ele já tinha entrado neste mundo que, até à data, sempre me foi desconhecido. A partir daquele dia eu e o Bernardo passamo-nos amar ainda mais. E, num dia, quis experimentar tudo aquilo; descobrir todas aquelas sensações e tentar perceber porque é que o Bernardo tinha optado por aquele caminho. Mas ele nunca quis. Nunca! Mas estávamos naquilo juntos e eu, parvamente, acreditava que só o podia ajudar se soubesse verdadeiramente por aquilo que ele estava a passar. E, sem que ele soubesse, inicie-me, primeiro com as drogas mais leves, depois com as mais ‘pesadas’. Aos poucos, começava a gostar de toda aquela sensação, daquele poder que se exercia sobre mim. Mas todas essas sensações acabaram no dia em que comecei a sentir a necessidade de as consumir, não pelo prazer, mas pela simples necessidade de sobrevivência. E foi assim que eu e o Bernardo nos envolvemos mais e mais nessa vida. E, ironicamente ou não, eu envolvi-me mais que ele.
Foi tudo tão rápido que eu, quando dei por mim, estava completamente dentro daquele abismo. Visivelmente mais magra e a perder tudo o que tinha de mais valioso. Mas tudo piorou após a morte do Bernardo. Foi como se tivesse perdido tudo aquilo que me restava; foi como se tivesse perdido a minha vida, se é que já não a tinha perdido antes. O Bernardo morreu por causa da droga e a mistura de amor que eu tinha por ele e a necessidade de consumir drogas dava comigo em doida. E, já completamente louca, quis morrer como Bernardo. Se por ele – mesmo sem ele querer - , eu tinha entrado naquela vida era, por ele, que eu assim iria morrer. Vê-lo morrer tão lentamente é a lembrança que eu tenho de toda a minha vida. Tantos e tantos anos de amor e tantos e tantos anos perdidos, anos que o mataram e que, cruelmente, aqui me deixaram. Eu sei, João, o que tu deves estar a pensar, mas também sei que, mais uma vez, me vais estender a mão, beijar-me a face e dizeres que me amas. Às vezes pergunto-me porque é que eu não me apaixonei por ti, talvez fosse mais feliz por não ter tido a vida que tive, mas seria certamente muito infeliz por não ter o amor do meu Bernardo. Eu acredito que tudo tem uma razão de ser e, se o destino existe, este foi o meu. A ti, meu querido e eterno amigo João, não sei se te agradeço por me teres conseguido arrancar do abismo em que eu estava metida, ou se te devo culpar por não ter morrido e estar, como prometi, para sempre com o Bernardo. Hoje és tu que eu vejo partir, talvez porque te cansaste de me ver sofrer. E agora, João, o que vai ser de mim sem ti?
Perco os meus dois amores e já nada resta.
Não morri com o meu Bernardo, mas morro contigo, meu João.
Um beijo a quem sempre me soube amar sem nunca me julgar.
Inês
segunda-feira, julho 10, 2006
3 - Sereia divina
( Disso eu nunca me vou esquecer. Não era suposto termo-nos conhecido assim. Eu é que, como um gentil e nobre cavalheiro, a devia salvar dos inúmeros e perigosos dragões que - a bem ver, naquele caso, era mais provável serem tubarões – a pudessem magoar. Mas assim não foi e, contra isso, não há nada a fazer. )
Olhámo-nos intensamente e eu pude sentir toda aquela magia nas minhas mãos, no meu peito, no meu olhar, nas mãos dela, no peito dela, no olhar dela e em todo o nosso redor. O mundo parou aí. Nada mais existia a não serem duas almas que se tentavam completar.
Foi aí que pude ouvir a voz dela a pronunciar o seu nome. Aquela sereia que nadava fora do mar chama-se Leonor. Amei-a intensamente como se fosse o meu primeiro amor, pois para mim cada amor é um amor e a cada um nos devemos entregar com a mesma força e com a mesma capacidade de acreditar que aquele sentimento será para todo o sempre. E, por tudo isso, eu amo-te! Sim, amo-te, porque um dia já te amei e, com isso, fomos felizes.
quinta-feira, julho 06, 2006
2 – O rapaz que queria ser Poeta...
Adorava andar pela rua, de pés descalços, respirando o ar daquela cidade que, na altura, era tão mais saudável. E, enquanto os meninos lá fora iam jogando à bola, eu preferia isolar-me num cantinho que era só meu, que eu descobri para poder escrever. O meu pai é que se fartava de reclamar pela minha fraca estrutura óssea e, nessas alturas, fazia um sorrisinho e um ar angelical e voltava para o meu refúgio. Naquela altura, as horas custavam a passar. A televisão, mesmo a preto e branco, era coisa rara e eu fazia parte dos milhares que sempre que via uma ficava boquiaberto e é claro que as poucas vezes que consegui olhar para uma era sempre na casa de um amigo de famílias mais favorecidas. Mas esses bens materiais nunca me fizeram falta. Eu só queria ser poeta. E fui... Um fraco e falhado poeta, mas fui. Milhares de sonhos foram destruídos no momento em que decidi levar uns quantos poemas a uma editora. Lembro-me como se fosse hoje, todos os editores por onde eu passava, que não eram muitos, assim que liam a primeira quadra olhavam para mim e desatavam-se a rir. E enquanto eu queria ser reconhecido pela qualidade da minha escrita, os editores em questão achavam que eu poderia funcionar bem a nível de mercado. E, nos primeiros meses, tudo funcionou como eles queriam. As vendas tinham aumentado imenso e eu preenchia as capas de todas as revistas e jornais da região. Depois... depois, nem a proeza de ter sido classificado como o pior escritor do século me fez continuar no tope. E, assim, os sonhos de criança foram talentosamente destruídos e, o que me valeu, foi que ainda fui a tempo de recomeçar a estudar... E hoje sou médico, sou infeliz, mas médico!
quarta-feira, julho 05, 2006
1 – Passado que me mata
As cores da vida
Movendo os meus dedos sobre o teclado construirei palavras até se formarem frases e, aos poucos, a história se vai formando até, um dia, eu colocar um ponto final.